Pra contar essa história precisamos, sem muitas delongas, introduzir o senhor Rod Fergusson. Particularmente eu gosto dele: é um tiozão nascido em 1968 que já trabalhou na Microsoft na divisão de jogos, foi produtor executivo na Epic Games, vice-presidente na Irrational Games (produtora de BioShock Infinite), liderou o estúdio The Coalition (o mesmo que lançou Gears of War em 2006) e atualmente é o Gerente Geral da franquia do Diablo. Sim, da franquia inteira que inclui Diablo II: Resurrected, Diablo Immortal e Diablo IV.

Torta Na Cara

O Rod é um cara legal, da “zoeira” como dizem por aí. Levou até uma torta na cara ao vivo para cumprir a parte dele numa tradição do time de desenvolvimento da Blizzard, que arrecada dinheiro para comprar brinquedos pras crianças no Natal.

E que fique bem claro: não estou tratando nada até aqui em tom de ironia, eu realmente gosto dele.

Primeiro Ano Do Diablo IV

Tudo corria “bem”. Diablo IV lançou, o hype levou milhões de jogadores a Santuário que presenteou os fãs com um belíssimo pacote gráfico, jogabilidade fluída e uma história legal, repleta de nostalgia. Mas o jogo estagnou rapidamente e algum tempo depois do lançamento a comunidade começou a fazer uma série de questionamentos sobre a evolução do jogo ao qual, é preciso que seja dito, a Blizzard havia prometido “contínua evolução ao longo dos anos”. E demorou exatamente 1 ano pro jogo ganhar algum corpo de endgame. Foi na temporada 4 que Diablo IV ganhou um volume notável de conteúdo trazendo:

• • O Fosso: Uma réplica da mecânica presente nas fendas de Diablo 3;
  • A têmpera de itens: De certo modo lembra muito o sistema de criação de Last Epoch;
  • A maximização de itens: O mesmo sistema presente em Genshin Impact;
  • Os afixos grandiosos encontrados apenas em itens saqueáveis: Similar aos afixos T7 presentes em Last Epoch.

Eu sei, eu sei. Comecei falando do Rod e agora entramos nos sistemas do Diablo IV, mas a mensagem já vai fazer sentido, eu prometo!

Post Indelicado

Foi no dia 21 de Novembro de 2024 a tão aguardada transmissão de revelação do conteúdo de Path of Exile 2, que começaria as 17:00 horas.

A Blizzard, por sua vez, teve a brilhante ideia (aqui tem ironia) de marcar uma transmissão conhecida como Campfire Chat, para as 16:00 horas do mesmo dia com o intuito de comentar mudanças de meio de temporada para o Diablo IV.

E aí que as coisas começam a ficar interessantes porque, enquanto a transmissão de Diablo IV alcançava um pico de pouco mais de 5 mil pessoas, Path of Exile 2 já contabilizava mais de 150 mil pessoas assistindo a contagem regressiva antes das 17:00 horas. E só pra registrar, o pico de audiência para a transmissão de Path of Exile 2 passou de 200 mil pessoas simultâneas.

Foi então que as 21:17 do mesmo dia, o senhor Rod Fergusson comenta no X (a postagem pode ser conferida AQUI):

Feels like the genre of “ARPG” is starting to mean a lot of different things. Much like “Souls-like” and “Rogue-like”, I wonder if we could normalize “Diablo-like” for ARPGs that follow the Diablo formula…

Na tradução literal:

Parece que o gênero de “ARPG” está começando a significar uma porção de coisas diferentes. Assim como “Souls-like” e “Rogue-like”, me pergunto se nós poderíamos normalizar “Diablo-like” pros ARPGs que seguem a fórmula do Diablo…

Repercussão

Ficou evidente que era uma tentativa de alfinetada para o anúncio do Path of Exile 2. E muitas respostas foram direcionadas diretamente ao senhor Rod, além claro de muitos memes. Mas em tom geral os comentários fizeram menção direta, ou pelo menos deram a entender, que grande parte da comunidade recebeu a postagem com ares de inveja e até medo.

Mas este vivente que vos escreve – sou eu, o Mega – opina diferente e enxerga a postagem com um alto tom de ARROGÂNCIA. Na visão da Blizzard, e isso não é algo isolado com o tio Rod, todo ARPG que veio depois de Diablo II (lançado em 2000), segue o modelo de Diablo ou “Diablo-like” como o Rod tentou emplacar. E não é verdade. Discordâncias até podem haver aqui, mas deixa eu dar alguns exemplos de jogos posteriores ao Diablo II:

• • Titan Quest (2004)
  • Torchlight (2009)
  • Diablo 3 (2012)
  • Path of Exile (2013)
  • Grim Dawn (2016)

É justo falar que todos esses ARPGs sofreram influência de Diablo? Claro que é. Mas é justo apelidar o gênero de ARPG de “Diablo-like”? É claro que não!

Um exemplo prático são os carros. Eu deveria então dizer que todos os carros hoje em dia são um “ford-like”? Não é por aí. Nem de longe.

É fato que a Blizzard não emplacou mudanças significativas em Diablo IV que pudessem ser chamadas de “exclusivas”. Perceba que mesmo as mecânicas que trouxeram um bom volume de jogo para Diablo IV, colocando ele novamente num caminho legal, não são exclusivas e originais dele. São ideias excelentes mas que partiram exclusivamente de outros jogos. E por isso as palavras do tio Rod não servem.

A Vingança Da Comunidade

No final, além do entretenimento proporcionado pelos memes, a comunidade se juntou para uma grande “trolagem” e começou a disseminar o termo “Poe-like”. E a presepada alcançou tamanha proporção que chegou a Steam. Nos jogos publicados na Steam é possível adicionar um marcador a seu critério e acontece que, quando muitas pessoas marcam com a mesma palavra, ela aparece na página principal do jogo! Não está visível ainda para todos, mas será que chega lá?

Depois de Diablo III ficar quase uma década sem receber grandes atualizações, Diablo IV com todo o dinheiro que arrecadou não conseguiu achar o caminho do sucesso dos ARPGs a longo prazo, se valendo de um sucesso momentâneo e todo pautado em nostalgia, deixando a ver navios todos aqueles que esperam por grandes inovações tanto na indústria quanto no gênero ARPG.

A Blizzard com Diablo IV precisa muito cessar o sentimento de arrogância pois, parecendo cega, continua achando que é a melhor do gênero. E isso não é mais verdade já tem muito, mas muito tempo.

E quando a Blizzard realmente inovar, eu como fã que sempre fui, serei o primeiro a estar aqui pra contar pra vocês. #poe-like